quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Apple de Sonho


(crónica no Jornal "Vida Económica", secção de Marketing, de 23/Nov/2012 - Dilen Ratanji)

Muito se poderia falar sobre o poder das marcas. Mas há marcas que marcam e que falam por si. A Apple é um desses casos. Numa altura em que os seus produtos começam a sentir uma forte concorrência de outras marcas globais e reconhecidas pelos seus produtos vanguardistas, umas das expressões que mais ouvimos é: “mas Apple é Apple”. Pois bem, a marca é uma promessa da empresa em oferecer uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos seus consumidores, e a Apple, com o seu fortíssimo brand equity, posiciona-se no mercado mundial como uma marca de excelência, inovadora, com produtos ergonómicos e design inigualável. Quando uma nova versão do iPhone é lançada no mercado, o mundo pára. As filas às portas dos estabelecimentos comerciais, com consumidores à espera desde a madrugada para adquirir o novo produto, é já um clássico. O facto é que o iPhone não precisa de ser o melhor telemóvel do mundo, basta-lhe ter o carimbo Apple. Quem nunca ouviu falar do Mac, iPod, iPhone ou iPad? Foram, no seu devido tempo, verdadeiros ícones da inovação. Aliás, continuam a ser.

É indiscutível que uma marca para se tornar credível, sólida e, acima de tudo, um mito, necessita de construir e desenvolver essses atributos ao longo de anos, muitos anos, ter provas inequívocas da sua sustentabilidade e da sua capacidade de acompanhar as tendências do mercado e satisfazer as necessidades cada vez mais exigentes dos consumidores. O poder de uma marca, como a Apple, é de tal maneira forte, que lhe permite resistir a polémicas em torno do seu fundador, Steve Jobs, às acusações de plágio de software, de concorrência desleal, da eterna rivalidade com a Samsung, entre outras.

E como alcançar este estatuto? À estratégia de desenvolvimento de produto, a Apple tem uma forma muito própria de promover os seus novos equipamentos, através do marketing viral e relações públicas. Enquanto que os seus concorrentes directos gastam milhões em publicidade para o lançamento dos seus produtos, uma das armas mais poderosas da Apple é criar o desejo em torno do seu universo através de boatos, antes de serem lançados os seus novos equipamentos. Uma estratégia altamente “provocante”, que dispensa a comunicação tradicional, baseada em avultados investimentos em publicidade. Este recurso é também uma forma de enfraquecer a posição dos seus concorrentes mais directos, antes de eventualmente lançarem algum produto similar. É evidente que a Apple ainda se associa a outras estratégias de marketing de guerrilha e marketing experiencial que permitem fortalecer e aumentar ainda mais a sua legião de fãs.

No entanto, apesar do poder da marca ser um driver fundamental para os seus promotores (distribuidores e retalhistas), é fundamental que a sua gestão esteja plenamente conciliada com os valores da marca. O exemplo da iLook é paradigmático: quando a nova equipa de gestão adriquiu a empresa, encontrou uma gerência desmotivada, sem recursos económicos e sem capacidade de acompanhar a exigência dos padrões de qualidade da Apple. E num período pouco superior a um ano, foi capaz de quadruplicar o volume de negócios. A Apple é uma marca que vende por si só, mas não chega. Sem uma estrutura bem preparada, bem gerida, capaz de se adaptar às exigências e centralismo de uma multinacional, e altamente profissional, o sucesso poderá não ser garantido.

Charles Revlon celebrizou a seguinte expressão: “na fábrica nós fazemos cosméticos; na loja, vendemos esperança”. Arrisco-me a dizer que a Apple vende sonhos.

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