terça-feira, 22 de julho de 2008

A Essência do Marketing das Relações


Depois de 2 semanas pródigas em inúmeras viagens, felizmente tenho algum tempo para me dedicar ao blog... Tempo para reflectir um pouco sobre um tipo de Marketing que o Prof. Carlos Brito denomina de “Marketing da 3ª Vaga”. Estou a falar-vos do Marketing Relacional.

Quando falamos de Marketing Relacional, falamos de um Marketing que, gerindo inteligente e adequadamente as relações (essencialmente com os clientes, mas também com os restantes stakeholders), tem como principal intuito ajudar a criar valor para a empresa.

Temos todos uma clara consciência que num mundo tão competitivo como é o de hoje, a fidelidade é claramente um valor ameaçado e a captação de novos clientes exige tendencialmente mais criatividade e “engenho” por parte das empresas. Estudos empíricos comprovam que captar um novo cliente custa cerca de cinco vezes mais do que fidelizar um cliente actual. Então onde está a dúvida? Qual o nosso interesse em captar muitos clientes, se depois não os “acarinhamos” comercialmente? Não será uma atitude inteligente as empresas lançarem campanhas de fidelização aos seus clientes actuais, com o objectivo de aumentar o seu share-of-wallet através de técnicas de cross-selling? Claro que sim! A fidelização mede-se fundamentalmente pela nossa capacidade de vender (mais) produtos ao nosso cliente... mas não só. Que nos interessa ter um cliente com inúmeros produtos em carteira, se temos clara consciência que ele não está satisfeito? No fundo, ele pode ser considerado um verdadeiro “refém” da empresa! E a nossa empresa não é seguramente um antro terrorista! Muitas vezes esta teoria não é aceite pelas pessoas, que questionam por que é que o cliente estando insatisfeito não se vai embora. A resposta consegue ser simples e, de alguma forma, lógica: os custos de transacção podem ser muito elevados. Facilmente dou-vos um exemplo ao nível da banca: se um cliente tiver um crédito habitação, um crédito pessoal, um cartão de crédito, dois ou três débitos directos (água, luz, telefone,...) e um seguro de saúde, mesmo não estando satisfeito com o Banco, pensará no mínimo três vezes antes de se ir embora... já imaginaram nos custos de transacção para uma transferência de crédito habitação? A “seca” que não é ir para os notários, conservatórias, realizar registos provisórios, entre outras formalidades? Não é justificação, mas acreditem que estes factores pesam na decisão dos clientes quando pensam em trocar de Banco.
Já agora, outra das variáveis fulcrais a ter em consideração quando fazemos o nosso database marketing é a rentabilidade do cliente – “trabalhar para aquecer”, mesmo que isso implique o aumento da satisfação do nosso cliente, não deverá estar nos horizontes. Como disse uma vez o Prof. Ken Burnett numa conferência que tive a felicidade de participar, “if a customer is not profitable for the company... just sack off!”. Se bem que muitas vezes somos obrigados a abdicar de ganhos numa fase inicial (ou mesmo incorrermos em prejuízos), para numa fase posterior prosperarmos...

Uma outra realidade incontestável é o facto de um cliente altamente satisfeito com a empresa estar disposto a pagar mais por um determinado produto ou serviço. Inúmeros factores podem estar por detrás desta satisfação, mas há seguramente um que é determinante e que pode ser o elemento difenciador face à concorrência: a qualidade de serviço prestada aos clientes. Sem dúvida nenhuma. A excelência no serviço prestado aos clientes é claramente uma vantagem competitiva e tem como objectivo fundamental não só satisfazer as necessidades dos clientes, como superá-las. Referenciando novamente o Prof. Carlos Brito, o nosso objectivo nº 1 é “encantar o nosso cliente”! Hoje em dia já não basta deixá-lo satisfeito, ou mesmo muito satisfeito... a estratégia passar por deixá-lo simplesmente encantado com os produtos e serviços prestados, superando largamente as suas expectativas. E este é um caminho ideal para a fidelização do cliente. Fácil? Claro que não. Esse deverá ser um desafio prioritário e eterno para as empresas.

Todas as empresas ambiciosas falam insistentemente na conquista de uma maior quota de mercado. Face ao acima exposto, será que não fará mais sentido as empresas tentarem alcançar uma maior quota do cliente, em detrimento da quota de mercado? Talvez... é uma questão que nos obriga a alguma reflexão, uma vez que depende dos objectivos estratégicos da empresa e do meio onde se encontra inserida.

Seja como for, há algo que torna claramente distinto o Marketing Relacional: a individualização do cliente e um claro enfoque nas suas necessidades. Cada cliente tem o seu próprio ADN, as suas necessidades específicas e os seus “desejos” enquanto consumidor. E é aqui que o Marketing One-to-One dá mais “cartas” que outras formas tradicionais de abordar o Marketing. Senão vejamos as diferenças:

- no Marketing Tradicional o cliente é mais um entre outros, tem acesso a produtos e serviços standard da empresa através de canais de distribuição e promoção massificados, procura-se incessantemente o desenvolvimento de economias de escala e o aumento da quota de mercado, assim como o aumento das vendas;

- no Marketing One-to-One o cliente é único, tendo acesso a produtos customizados, através de canais de distribuição e promoção individualizados, e onde se privilegia o investimento de relações e a quota do cliente (numa perspectiva de customer lifetime value), sendo que o objectivo primordial é fidelizá-lo.

Uma última reflexão: há aquele cliché de que o “empregado é o activo mais valioso mais importante da empresa”. Verdade. Mas também não é menos verdade que sem clientes a empresa não existiria... Os clientes são a razão de ser das empresas, por isso há que “acarinhá-los” da forma como merecem. Nem sempre é fácil, há uns mais chatos que outros, mas na maioria das vezes tem mesmo de ser. Pois... é que cada cliente satisfeito comunica esse facto a cerca de 5 outras pessoas, mas um cliente insatisfeito fá-lo a cerca de 9 pessoas...

5 comentários:

SOPHIA FERREIRA disse...

Uma temática muito interessante sem dúvida.
Desde que trabalho na empresa onde estou actualmente que tenho um enfoque particular no cliente e desenvolvo o meu trabalho nessa base.
Sobre o teu último parágrafo a questão que te faço é: e o empregado não é também um cliente? Para termos clientes satisfeitos, a satisfação dos clientes internos é essencial. ;-)

SOPHIA FERREIRA disse...

Mais uma questão.
Podemos traduzir Database Marketing para Sistemas de Informação de Marketing?!

Dylan disse...

Olá Sophia!

Antes de mais, obrigado pelos teus comentários.

Apesar de serem conceitos complementares e terem um objectivo estratégico muito semelhante, o Database Marketing não é o Sistema de Informação de Marketing (SIM). Aliás, o “SIM” em inglês é Management Information System (MIS). As diferenças fundamentais são as seguintes:
- Database Marketing: como o próprio nome indica, são utilizadas técnicas no sentido de explorar inteligentemente a base de dados da empresa e, consequentemente, obter conhecimento. No fundo, inclui um processo de transformação de dados (a Data Warehouse) em informação (através do Data Mining), para se consolidarem alguns modelos de análise, tais como Segmentações Comportamentais, Modelos de Propensão à Compra, Modelos de Retenção de Clientes, entre outros;
- Sistema de Informação de Marketing: permitem integrar várias variáveis fundamentais ao funcionamento das empresas, nomeadamente o CRM, e dispor de dados para analisar históricos, prever tendências e fazer auditoria de marketing. Outras variáveis: gestão de reclamações, controlo de contactos, gestão de campanhas e projectos, qualidade do atendimento, gestão de serviços, e-commerce, indicadores de venda, etc.

Ou seja, no limite, os resultados obtidos no Database Marketing podem ser incorporados no “SIM”.

Conclusão: não faço a mínima ideia de como se pode traduzir Database Marketing em português! ;-)

Bjs
DR

Dylan disse...

Oi Sophia...novamente!

Respondendo à tua primeira questão, o empregado (ou colaborador, como muito gente prefere!) é efectivamente um cliente interno. No entanto, aí já estamos a "fugir" do campo do Marketing Relacional para o Marketing Interno. Mas eu não vou fugir mais! Graças ao teu comentário, ajudaste-me a pensar no meu próximo "pensamento": estará relacionado com o... Marketing Interno! ;-)

E evidente que o Marketing Interno deve contemplar um grande investimento em relações (empregador-empregado), pelo que, se quisermos, podemos chamar de "Marketing Relacional Interno"! ;-)

bjs
DR

Priya Ratanji disse...

Antes de mais, devo congratular-te por esta iniciativa. Acho extremamente interessante a forma como abordas temáticas tão concretas da área do Marketing e a extrapolas para as mais diversas dinâmicas da nossa vida. Quando tu mesmo falas neste blog no chamado Marketing Pessoal. Actualmente, a importância atribuída a premissas como: a empatia estabelecida com o cliente, a compreensão do seu ponto de vista, o follow-up periódico, a confiança gerada, fruto do relacionamento a CMP/MLP, ou mesmo "amizade" criada, são fundamentais, para que nós, como gestores possamos ter legitimidade para dizer ao nosso cliente o que achamos que é o melhor para a marca/serviço ou o porquê de não concordarmos com a sua perspectiva. Tomando como exemplo a minha própria actividade de gestão de clientes, entendo serem de extrema importância as relações interpessoais profissionais. Só assim conseguimos, em conjunto do nosso cliente desenvolver dinâmicas estratégicas devidamente sustentadas e programas de comunicação eficazes. Se se fala em negócios win-win.. Eu falo em relações interpessoais profissionais win-win: temos de atender às necessidades reais do cliente cruzando-os com o know-how estratégico de marketing. O resultado para ambas as partes é claramente o mesmo: rentabilidade, na sua verdadeira acepção.